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domingo, 9 de julho de 2023

Moda lolita, infantilização ou hiper feminilidade?


Nota da autora: Esse foi um trabalho que fiz para uma cadeira do meu curso.A tarefa era transformar um artigo em notícia,escolhi o artigo "Individualismo e produção do feminino através da moda urbana lolita" da mestra em antropologia social Aline Lopes Rochedo.

Saias volumosas, bichinhos de pelúcia,rosa,babados e cabelos coloridos.

A primeira vista poderia estar descrevendo algum grupo teatral voltado para contar histórias infantis e formado majoritariamente por mulheres,mas quando nos aproximamos mais e trocamos algumas palavras com essa turma inusitada e questionamos "O que vocês estão vestindo?".A resposta que vem em seguida é "Uma moda alternativa" e assim o grupo se volta para sua conversa,se fechando em sua própria realidade ,sem julgamentos daqueles que não conhecem e as acham estranhas.

Este grupo é a comunidade de moda lolita/harajuku do RS,uma comunidade diversa,bem humorada e reservada no que diz respeito a seus encontros e membros. Quase uma sociedade secreta onde as mais diversas pessoas se reúnem para falar sobre o novo lançamento de marcas como Angelic Pretty,Baby e compartilhar achadinhos voltados para a moda alternativa.Sem impedimentos de gênero ,a comunidade conta com alguns meninos,pessoas de gênero fluido e ,em sua gritante maioria, mulheres.É interessante colocar que isto também reflete na comunidade de moda lolita nacional, onde tem um número expressivo de mulheres e pessoas LGBTQIAPN+ fazendo parte da mesma.

Talvez ,exatamente por conter um número expressivo de minorias, a comunidade seja tão fechada para aqueles que não fazem parte desse mundo de moda alternativa japonesa.Se tem uma grande preocupação em como a interação da comunidade e de indivíduos que se comunicam sobre a moda com quem não é do meio,seja por preconceitos já sofridos, reprodução do estereótipo "adolescentes estranhos" e da reprodução de falas erradas.

É por buscar ir contra esses estigmas sociais,que o trabalho da doutora Aline Lopes Rochedo se destaca.Interessante citar como a acadêmica inicia os seus primeiros contatos com a moda lolita,como a mesma explica no artigo,através de algum programa da grande mídia brasileira,que teve pouca ou nenhuma preocupação em explicar sobre uma moda alternativa que surge nos 70/80 no Japão e que busca no exagero do feminino chocar e se opor a sociedade patriarcal japonesa.Na ocasião foi explicado rapidamente e de forma rasa os significados de palavras como kawaii,quase sem explicação sobre a moda e sim muito mais focado na visão que a "embaixadora kawaii" Akemi Matsuda tem sobre as vestimentas,além de expor quem usa a moda como "algo raro e diferente " e não como seres humanos com suas demandas e particularidades.Não houve questionamentos sobre a polêmica da moda e do livro "Lolita" do escritor russo Vladimir Nabokov compartilharem o mesmo nome e nem as diferenças entre um e outro.Ao longo do artigo a mesma comenta que o ponta pé inicial para buscar escrever e conhecer a comunidade lolita, principalmente a do estado do RS, é o encontro com uma pessoa do meio no mercado público da cidade .

Ao invés de partir para um olhar estereotipado e raso,como grande parte das matérias jornalísticas produzidas no Brasil sobre a moda ,Aline busca em seu artigo "Individualidade e produção do feminino através da moda urbana lolita" trazer um olhar mais acadêmico e respeitoso para a moda lolita e para quem a usa.Ao escutar tanto a comunidade nacional como a do estado do Rio Grande do Sul,busca entender os reais motivos do porquê mulheres,homens e pessoas trans usam a moda e veem nesta comunidade um ambiente seguro.

O trabalho de Aline mostra como a moda lolita acolhe a todos que querem se auto expressar com uma imagem ultra feminina,rebelde e cheia de autoconfiança.

Citando um dos grandes autores da moda lolita ,Novala Takemoto "Lolitas não reconhecem nenhuma autoridade. Elas seguem apenas os valores que escolheram para si mesmos, independentemente do que alguém pode dizer.”Usar moda lolita é ato de rebeldia contra uma sociedade que liga a imagem de rendas,babados e tons pastéis em uma mulher adulta a se infantilizar para agradar homens e que nem por um segunda questiona o homem por se atrair por coisas ditas infantis.

Esse grupo acolhe a todos que realmente buscam as entender e as escutar sem julgamento e que as enxergam como realmente são jovens adultos que gostam de rendas,babados,saias volumosas e ficar sentados em cafés enquanto conversam sobre algum lançamento de alguma marca japonesa.

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