terça-feira, 19 de outubro de 2021

Réplicas e culpabilização gordofobica

 


Quando iniciei a falar sobre gordofobia e o problema que lolitas gordas sofrem no meio, seja para comprar, serem aceitas ou se encaixarem no meio, recebi muitas mensagens de apoio concordando e compartilhando suas dores. Mas,  também recebi comentários que discordam do texto e diziam que "não era bem assim".

Dois comentários em particular me marcaram mais. Em um deles, a pessoa diz que “ser gorda ou ter toda essa dificuldade para comprar peças não era justificativa para replicar marcas” (Observação: eu nunca falei sobre réplicas em nenhum dos meus textos até agora ) e o outro comentário era que o que "sujava a comunidade eram lolitas gordas que usavam réplica”.


Eu demorei muito tempo, talvez até demais, para entender que isso não tem só ligação com condenar réplicas e sim com condenar o corpo gordo que se atreve a achar uma saída para usar uma roupa que quer. Enquanto nossa comunidade é tão lotada de problemas como racismo, xenofobia, bullying, elitismo e tantas outras coisas ruins, uma pessoa gorda que achou uma saída para um problema, ser considerada o que suja a imagem da comunidade é insanidade.  O corpo gordo é visto como algo ruim, detestável, nojento e doente; que não merece se sentir bem.


O problema não é a réplica mais, não é o dinheiro que a Brand milionária perde ou a desvalorização da artista, o problema é a gordofobia!


Entendam, não tô aqui pra dizer "réplica é certo" ou "réplica é errado", se descolem dessa dualidade desnecessária e rasa! Eu tô aqui para fazer vocês pensarem. Você saberia que aquela peça, daquela marca, é uma réplica se não fosse uma pessoa gorda usando ? Não né ? Você só sabe que aquilo é uma réplica porque a marca não faz tamanhos maiores, e você sabe o porquê, já conversamos sobre isso em outros textos .


No final quem fica de errado não é a marca que exclui parte do seu público, mas sim as que são excluídas e tentam uma forma de burlar essa exclusão. Termino esse texto com uma frase de Paulo Freire: " não confunda a reação do oprimido com a violência do opressor ". 









quinta-feira, 5 de agosto de 2021

A comunidade tóxica e a quem ela serve

Olá meus amores 💕
Hoje vamos falar de um tema que tô a tempos querendo falar: comunidade tóxica na moda lolita!
Para início de conversa, precisamos entender que sim, gostando ou não, as comunidades nacionais e internacionais de moda lolita tem problemas e isso é indiscutível, mas precisamos entender que de alguns poucos anos atrás para agora, a comunidade BR mudou muito.

"Mudou nada, me mostra onde mudou!"
Bom, antes de 2017, que considero um grande divisor de águas na comunidade nacional, nós éramos muito ligadas a grupos internacionais e, principalmente, reproduzimos muitos comportamentos ruins dessas comunidades, que geralmente são muito grandes e pouco moderadas, tais como: participamos em sites de hate, tínhamos sites nacionais de hate e bullying e aqueles que achavam normal eram mais vocais e se sobressaiam sobre quem achava errado. Havia muita gente que batia palmas e considerava engraçado e certo. Se a comunidade internacional faz, o que nós impedia de fazer também? Havia muita falta de bom senso e maturidade.

Em 2017, tivemos o retorno do meeting nacional. Esse evento visava reunir todas as pessoas de nossa comunidade. Talvez eu esteja fantasiando, mas desde então sinto que somos uma comunidade mais unida e que se propôs a melhorar. Pudemos ver, através desse meeting, que somos muitas comunidades de pessoas diversas, vindas de vários estados do país, todas colocando amor e esforço na nossa moda. Vimos que ódio e bullying não são legais, vimos que abraçar nossas novatas é importante e que devemos ser bons exemplos, para que elas não reproduzam comportamentos que agridam, ofendam ou alienem outras pessoas. 

Esse sentimento de união tem ajudado a produzir uma comunidade melhor, mas ainda temos muito o que melhorar.

Um dos pontos a se melhorar é que continuamos repetindo que a “comunidade é tóxica” sem nunca descrever e procurar resolver esses problemas.

"Espera aí!! Então você quer que eu não fale que comunidade é tóxica?!?!"

Não.

O que quero é que façamos um exercício de reflexão e autocrítica. Devemos nos questionar sobre como melhorar nossas comunidades. Como podemos atingir e influenciar positivamente nosso círculo de amigos? Como criamos espaços seguros? Não falo para tomar ações gigantescas, mas ações reais, como acolher quem está sendo atacado, não divulgar sites de ódio e evitar tretas desnecessárias. Você faz isso ou, quando surge a oportunidade, vai lá e repete "a comunidade de moda lolita é tóxica” enquanto joga lenha na fogueira?

Você sabe a quem serve essa atitude conflituosa? Exatamente, serve a valentões e pessoas mal intencionadas. São pessoas que não querem que a comunidade cresça, que tenha pessoas diferentes participando, não querem pessoas buscando melhorar a comunidade e mudando as coisas. Eles querem que as pessoas sintam medo de entrar e, ao entrar, que reproduzam seu comportamento cruel. Um ambiente assim jamais iria florescer e criar algo saudável e legal de participar.

Por isso, não podemos apenas repetir que a comunidade é tóxica! Temos que entender que ela pode ser permissiva com mau comportamento ou ter um pacto coletivo pelo bem-estar de todos os participantes. De fato, a comunidade nacional melhorou e é possível tomarmos a iniciativa para melhorar cada vez mais.
Me diz como você quer melhorar a comunidade?

Texto inscrito em conjunto com a Annah Hel

quinta-feira, 29 de abril de 2021

Moda Lolita 'não' está morta


 Olá meus unicórnios amadinhos!

Em algum momento da sua vida dentro da comunidade de moda lolita você já deve ter lido em algum lugar que a moda estava morrendo, principalmente a uns 10 anos atrás, esse foi um tema bem recorrente nas comunidades mundo afora. A questão é: da onde o povo tira isso? 

Pode-se dizer que existem 3 grandes fatores para as pessoas acreditarem nisso, sendo eles: a gentrificação de Harajuku, que favoreceu muito grandes fast fashion como por exemplo Forever 21, e fez ateliês menores fecharem com o aumento do valor do aluguel. Isso fez com que muitos turistas também fossem para essa área, e vocês sabem como tem turista babaca né? Muitos tratavam o pessoal adepto da moda alternativa como uma atração pública (eu explico mais sobre como isso é ruim no texto sobre assédio na moda lolita), fazendo com que muitos alternativos saíssem dessa área, que é uma referência para modas alternativas, e fossem para outros bairros.

Outro ponto são as mudanças das formas de consumo de roupas. As revistas que eram "bíblias" da moda estão fechando, lojas fechando e pontos de encontro. Claro que eu acrescentaria aqui também que a vida adulta já não permite que a pessoa se dedique tanto a moda como antes. Tudo isso acaba culminando nesse último ponto: pessoas dizendo que a moda está morta ou morrendo porque a moda já não está mais como era a 5, 10 ou 15 anos atrás. É importante entender que a moda alternativa, seja ela lolita ou qualquer outra, se modifica com o passar dos anos. 

Podemos notar essas mudanças com o passar dos anos. Quando eu entrei para moda lolita em 2012 era extremamente difícil comprar roupas importadas de marcas como Angelic Pretty. Já em 2014 muita coisa mudou, foi um boom o uso de tecidos transparentes em blouses, coisa que seria impensável alguns anos antes, o acesso a importação também ficou bem mais facilitado. Depois, em 2017 a Kera uma das revistas mais icônicas do meio alternativo, parou de ser publicada fisicamente e isso foi um surto na comunidade. Mesmo a revista sendo publicada online e com correspondentes em vários países (inclusive no Brasil) e em 2020. Mais recentemente, tivemos uma pandemia mundial que faz a modificação do consumo de moda lolita, até mesmo os meets presenciais não existirem. Claro que há outras maneiras de nos unirmos em meio a pandemia com eventos online, como a AP fez.

Vocês devem estar pensando agora "Aí Tay, mas pessoas que gostam de cultura japonesa não conhecem a moda lolita e confundem com loli”. Primeiro que esse tema moda lolita e loli é algo para outro texto, mas a 10 ou 20 anos atrás as pessoas também não conheciam a moda. A questão aqui não é sobre a moda ser super conhecida, algo ser conhecido não significa estar vivo e com muitas pessoas usando, ou ter super marcas de sucesso, isso ajuda, mas não é questão. O que mantém uma moda viva são as pessoas que usam ela. Então, enquanto tiver alguém querendo usar moda lolita, colocar um lindo vestido cheio de babados, laços e uma saia de armação com monster poof (quem aí pegou a referência?) a moda lolita estará viva, talvez com menos gente e de uma forma diferente, mas ela estará viva.